Papel e tarefas do casal responsável regional
UM PAPEL FUNDAMENTAL
Como o próprio documento denominado o Casal Responsável Regional diz na sua apresentação, o objetivo desta nossa exposição é salientar mais alguns pontos que os ajudem na formação e na reflexão da função de Casal Responsável Regional, deixando em menor relevo o aspecto organizacional.
Quando falamos em papel, queremos nos referir àquela parte que compete a um protagonista dentro do contexto geral de uma história.
O Movimento das ENS é, sem dúvida, a história de uma grande aventura inspirada pelo Espírito Santo, que pretende oferecer aos casais nada mais nada menos que o ideal da santidade a partir de seu estado de casados, oferecer um caminho de felicidade e de realização plena.
Todos os níveis de estrutura que foram criados dentro do Movimento têm por objetivo fazer os esforços e fornecer os meios para que essa maravilhosa aventura aconteça na vida dos casais equipistas. E em cada um dos diversos níveis de responsabilidade são chamados casais para desempenhar o seu importante papel.
A região é a instância de responsabilidade na qual o seu responsável começa a perceber com mais nitidez a importância do nosso Movimento para a vida dos casais, para a vida da Igreja e do próprio mundo. É nesse nível de responsabilidade onde também se toma mais consciência do caráter internacional, da destinação universal do nosso Movimento.
Assim, abrindo esta nossa reflexão, queremos fixar dois pontos fundamentais:
a) O primeiro é que a importância do papel do Casal Responsável Regional está direcionado a assegurar a pertença das equipes do Setor a um Movimento que é muito maior e abrangente que os Setores, estabelecendo elos de ligação entre os Setores que compõem uma Região e o nível de responsabilidade atribuído às Super-Regiões, à Equipe Responsável Internacional, e em algumas realidades, a responsabilidade de nível Provincial.
b) O segundo papel fundamental é o estabelecer a solidariedade entre os vários Setores que compõem uma Região, de forma que seja possível fazer fluir de um lugar para outro as riquezas, as necessidades e as aspirações das Equipes existentes nos Setores.
DAS TAREFAS
As tarefas pedidas aos CRR podem ser concentradas em 4 aspectos:
a) Expansão
b) Animação
c) Ligação
d) Formação e Organização de Atividades
Antes de adentrarmos o espírito e a uma melhor explicitação dessas tarefas, gostaríamos de enfatizar que sua execução tem aplicação concreta em duas grandes vertentes:
I) Serviços de Iniciação
II) Serviços de Acompanhamento
a) Expansão
Os serviços de Iniciação que incluem a informação e a pilotagem têm a ver com o nascimento de uma Equipe e, portanto, atingem de modo muito particular a tarefa da expansão do Movimento. O Pe. Caffarel chamava sempre a atenção para a importância do bom nascimento de uma equipe. Uma equipe mal formada em seu nascedouro terá muitas dificuldades para bem se desenvolver, para compreender as propostas do Movimento. Por isso, os Casais Responsáveis Regionais são chamados a ter uma preocupação constante com a difusão do Movimento, para que isso possa acontecer de forma planejada e, principalmente, sustentada. Compete-lhes supervisionar a expansão em sua Região, cuidar para que a informação sobre o carisma, o método e a pedagogia, enfim, todo o conteúdo das ENS seja transmitido com fidelidade. O verdadeiro sentido da difusão não é somente o crescimento do Movimento, mas deve ser visto como a grande oportunidade de mostrar ao mundo, através dos casais de uma equipe nova, o maravilhoso plano de Deus a respeito do amor humano entre um homem e uma mulher unidos pelo sacramento do Matrimônio. Expansão não pode ser vista simplesmente como número.
Decorre disto a preocupação em se cuidar para que os casais pilotos recebam uma formação sólida e consistente para conduzir as equipes nesta sua primeira fase de vida, com segurança, permitindo aos casais conhecer e entender a proposta da espiritualidade conjugal.
Na vertente dos Serviços de Acompanhamento, que abrangem toda a dinâmica da vida das equipes numa determinada Região, adentramos em aspectos mais sensíveis para a concretização das outras três tarefas fundamentais acima elencadas, e que agora iremos aprofundar:
b) Tarefa de Animação
Animar é um termo derivado do latim “anima” = alma. Animar, portanto, é dar alma, é levar a vida.
O Casal Responsável Regional haverá de fazer esse grande discernimento: como ele poderá ajudar os casais existentes nos vários setores a melhor viver o ideal proposto pelo Movimento? Como fazer para que as orientações propostas pelo Movimento sejam aplicadas naquela realidade concreta de equipistas situados numa mesma região, de acordo com suas necessidades específicas, de acordo com suas realidades locais? Qual será o plano estratégico a ser implementado, qual o projeto regional, as ações necessárias para levar a vida a toda essa gente?
Gostamos muito da expressão usada pelo Pe. Caffarel quando diz que um responsável tem por função insuflar a alma, ou seja, lançar continuamente um sopro que desperta para a vida, que permite a alguém crescer e progredir no seu caminhar, descortinar novos horizontes, descobrir a alegria que existe nesse viver.
Mais do que transmissão de regras, normas ou conceitos, o Casal Responsável Regional haverá de ser capaz de transmitir o exemplo do seu entusiasmo, a alegria de sua própria vida. Trata-se de abrir as possibilidades para que cada casal de sua região faça uma verdadeira experiência de encontro com o Senhor.
Quando se fala em animação espera-se acima de tudo atingir o sentido espiritual do termo: trazer o maravilhoso mistério do amor de Deus para a vida dos nossos casais. Levar nossas equipes a compreender a presença de Jesus no meio da comunidade que se reúne em seu nome para acolher o amor do Pai e partilhá-lo entre todos.
Animar é mostrar os meios e ajudar a sua efetiva utilização, possibilitando que os casais dos nossos setores descubram no baú do seu coração o que há de mais bonito e que estava adormecido e por causa dessa descoberta despertem para um grande encontro com o Senhor e com os irmãos.
c) Tarefa de Ligação
Esta é uma tarefa marcante no serviço de um Casal Responsável Regional. Todos nós sabemos que a ligação foi uma das primeiras necessidades que surgiu em função do grande desenvolvimento das ENS. Não era mais possível ao Centro Diretor da época, ou ao Pe. Caffarel, acompanhar cada equipe. As cartas mensais também não cumpriam com eficiência o papel de criar laços fraternos entre as várias equipes e também com os dirigentes.
Este espírito de ligação faz-se absolutamente necessário nas tarefas de um CRR. O mesmo Pe. Caffarel lembrava que nada substitui o contato pessoal e direto, e ia mais longe, dizia que cometia um pecado quem se descuidasse disso.
Nessa tarefa de ligação, o CRR estará junto a seus setores, para ter um olhar objetivo, no sentido de ser capaz de enxergar o funcionamento das coisas e assim estar presente e trabalhar para corrigir eventuais desvios. Mas, ao mesmo tempo, um olhar fraterno, capaz de sentir as necessidades, de perceber as aspirações e sobretudo, de colher as riquezas que brota em cada Setor, para fazer com que essas riquezas sejam partilhadas entre os setores e os demais níveis de responsabilidade.
Um CRR consciente não pode desviar-se desse espírito de ligação, e haverá de considerar sempre que:
- Ligação é Discernimento, que nos leva à vontade de conhecer as realidades dos setores que nos foram confiados, das pessoas que compõem as equipes de setor, os equipistas locais, a compreender suas características, sua história, suas lutas, seus desejos e aspirações.
- Ligação é Criar Laços, e isto se faz a partir da construção da confiança mútua, de que somos todos parte de uma mesma família, e nos encontramos para nos ajudar, para crescermos juntos.
- Ligação é uma experiência de Evangelização, um processo de formação de dupla direção, onde ensinamos, mas onde devemos estar abertos a também aprender, onde não iremos com pretensão de ser mestres, nem senhores, mas apenas servidores humildes nas mãos do Senhor.
- Ligação é uma oportunidade de vivência concreta da Colegialidade, tema este que será desenvolvido em outra palestra que vocês terão logo mais, e que, assim sendo, não iremos aprofundar.
O espírito de ligação será o grande instrumento para o fortalecimento da unidade. Um último aspecto a salientar é apenas advertir para um perigo que ronda muito de perto a função de ligação: tornar-se um Casal Responsável Regional burocrata, passador de informações, executor administrativo das orientações que vem de outros níveis de responsabilidade.
Muito cuidado, pois, para que façamos sempre o nosso exame de consciência diante desse serviço que o Movimento nos pede, para que não matemos o espírito, nem assumamos o risco de não mais transmitir a vida, e fazer o Movimento empobrecer, secar ou até definhar.
d) Tarefa de Formação e Organização de Atividades
Aqui estão reunidos dois aspectos de tarefas que se encontram notoriamente vinculadas uma à outra.
Quando de uma visita ao Brasil, o Pe. Caffarel pronunciou uma frase célebre: “Mais valem 500 equipes bem formadas que 5.000 medíocres”. A mediocridade nunca fez parte do espírito das ENS. O Movimento não é um jardim de infância, nem um abrigo para adultos bem intencionados. O Movimento nos propõe vôos altos. O ideal da santidade propõe um caminho de busca contínua e de esforços. Não basta querer ser equipista. É preciso nunca estar satisfeito com aquilo que conseguimos.
O Casal Responsável Regional deverá ser capaz de estimular a formação dos equipistas em sua região, a começar pela formação dos próprios Casais Responsáveis de Setor e de casais implicados com a difusão, com a pilotagem, os Casais Responsáveis de Equipe em geral. É tarefa fundamental dos CRR fornecer meios para que a formação aconteça. E para isso temos as sessões de formação, reuniões do Colegiado Regional, reuniões para os Sacerdotes Conselheiros Espirituais, os Encontros Anuais de Casais Responsáveis de Equipe, e enfim, uma série outras atividades que a Região terá de oferecer em nível Regional para tornar os equipistas mais aptos e mais seguros no seu caminhar.
CONCLUSÃO
Já entrando no encerramento dos pontos que gostaríamos de salientar, parece-nos necessário observar que as tarefas pedidas aos CRR não devem ser uma sobreposição nem duplicação às tarefas que cabem aos CRS. É preciso, pois, que o CRR juntamente com sua equipe de apoio façam esse discernimento para não assumirem uma função que não lhes pertence, e que acaba, por vezes, sufocando o desabrochar do próprio CRS. E, se nos permitem algo mais, diríamos que o CRR não poderá olhar para suas funções como se fosse um gerente de empresa, um administrador de um negócio. A força de seu trabalho não decorrerá de sua competência ou habilidade, mas principalmente da graça de Deus. É preciso ser um casal orante, que busca em Deus a sua fonte de amor.